Quando ainda era criança passei pelo meu
primeiro "teste" contra mentira. Lembro-me perfeitamente
bem, era um caso basicamente normal : uma caixa de lápis para colorir que por
simples obra do esquecimento foi deixado em minha pasta. Eu, tendo convicção do
que havia acontecido, assim relatei aos meus pais. A reação não foi a esperada:
eles simplesmente não acreditaram em mim a ponto de não precisar investigar a
veracidade da minha informação. Lembro-me que, de tão mal que me senti, comecei
a ficar em duvida sobre o que tinha falado - um misto de sentimentos confusos
para uma garotinha da minha idade. Mesmo sabendo que no fundo meus pais tinham la
seus motivos para desconfiar do que falei e tirar a “prova dos nove” sobre o ocorrido por questões éticas, me senti
inenarravelmente magoada.
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O tempo passou. A menininha cresceu; mas
ainda continua sentindo o mesmo misto de sensações que da primeira vez quando
percebe que errou, quando percebe que sua palavra não é suficiente, quando
percebe que na maioria das vezes um erro dela possa valer mais que dois acertos.
Ela chora quando percebe que o mundo é vil,cruel; e que a maioria das pessoas não
entende que ela prefere permanecer “criança” , tratando a todos como se
fossem sempre sábios,
verdadeiros,inocentes e sem candura. O
tempo passou e ela percebeu que precisa abdicar de alguns costumes para
conseguir sobreviver na “Terra de gente
grande”. Ela ainda chora ao pensar
nisso; ainda se lembra de quando todos eram verdadeiros super heróis; de quando
o único motivo de sofrimento,magoa,culpa e rancor era o de não ter dividido o
lanche com a coleguinha que não tinha nada pra comer, de quando o único medo
era o de ficar de castigo por não ter feito a lição de casa. Ela sente saudade
de quando saudade significava não poder mais ver o seu desenho preferido passar
na TV. Sente saudade de quando podia abraçar e beijar qualquer um que
abrisse um sorriso para ela.
Mas
assim se constrói a teia da vida! As vezes é preciso perder parar ganhar,
ganhar para perder , ou ate mesmo perder para dar valor. Nunca se sabe que tipo
de providencia devamos tomar para seguir em frente diante da metamorfose da
vida. E o que ela nos impõe? Sendo bom ou ruim, devemos absorver os pontos
positivos e seguir em frente. Reconstruindo um novo tipo de saudade, de magoa,
sofrimento, um novo tipo de super herói, uma nova maneira de abraçar, de provar
às pessoas o aprendizado que retiramos dos nossos “erros” e , mais do que qualquer
outra coisa , essa menina precisa lembrar sempre que a vida para ela começa agora. Com o misto de
um ontem, um hoje e um depois.
